Um estudo coordenado por Berthold
Koletzko, pediatra alemão da Universidade de Munique, alerta para o
fato de que o aleitamento materno reduz, em 20 a 25%, o risco de
obesidade. Isso se deve a uma série de fatores. A própria oscilação
do volume ingerido nas mamadas ao longo do dia favorece a
auto-regulação do apetite e, consequentemente, o desenvolvimento do
mecanismo de saciedade. A mudança de sabor, de acordo com a dieta
materna, prepara o paladar do bebê para a variedade de alimentos que
ele consumirá no futuro.
Apesar de todos estes benefícios, uma
proporção considerável de bebês é desmamada precocemente,
necessitando de substitutos para o leite materno. Na prática, o mais
utilizado é o leite de vaca. “Infelizmente, os lactentes no primeiro
ano de vida ainda recebem, com frequência, leite integral, que
contém cinco vezes mais proteína do que o leite materno e apresenta
marcantes diferenças quanto aos aspectos qualitativos”, afirma
Murahovschi.
Em 2009, Koletzko avaliou 1.138
crianças, que receberam fórmulas infantis –leite de vaca com uma
composição nutricional modificada–, com diferentes conteúdos
protéicos, durante o primeiro ano de vida. Para a comparação, também
foram seguidas 619 crianças em aleitamento materno exclusivo. Os
autores observaram que o Índice de Massa Corporal (IMC), aos 2 anos,
no grupo que recebeu fórmula infantil mais protéica, era superior ao
das crianças amamentadas ou que recebiam fórmulas infantis com menor
concentração de proteínas.
O excesso desse nutriente predispõe à
obesidade e ao diabete no futuro, além de sobrecarregar os rins,
ainda imaturos. “No leite de vaca há, também, deficiência de
aminoácidos, como a taurina – o que prejudica o desenvolvimento
neurocerebral e a função da retina, nos olhos”, complementa Jayme
Murahovschi.
Para a pediatra Roseli Saccardo Sarni,
membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, do Rio de Janeiro, é
necessário um amplo trabalho de educação nutricional , que envolva
gestantes, lactantes e mães, para a prevenção de doenças crônicas
tão frequentes, em nosso meio, quanto à obesidade.
Lembre-se de que o aleitamento materno
deve ser oferecido de forma exclusiva até os 6 meses e prosseguir,
com a introdução de alimentação complementar balanceada, até os 2
anos, pelo menos.
CL Marcus Sader
Assessor de Saúde da Criança do DMLD |
Criança não vota, por isso vale pouco para os
candidatos. Quase nada. Só serve como pequeno figurante das imagens
de campanha. Recebe beijos, sorrisos, abraços e afagos de políticos
treinados por competentes marqueteiros. Mantém, contudo, a
autenticidade da alma infantil. Não retribui porque percebe a
artificialidade do gesto, a frieza do olhar, a bradicardia da emoção
profissional. O único personagem que mostra seriedade em fotos de
propaganda eleitoral é a criança. Só ela não sorri. Não vê graça
alguma na encenação de que participa sem ser consultada. Na maioria
das vezes, não esconde a reação de susto, quase medo. Usada para
atestar a sensibilidade humana do candidato, não faz a dobradinha
correspondente. Revela equilíbrio. Não se deixa envolver pelo clima
de falsa alegria e jargões do profissionalismo eleitoral que não
respeita a infância.
A criança está muito próxima da fonte da vida, bem
distante da aridez ética inspiradora dos embates e embustes que
disputam o poder. Sua sintonia é outra. Afina-se aos acordes
infinitos da melodia cósmica, o som do amor universal. Pulsa na
frequência da espontaneidade sem limite. Labora na divisa do
original, pressuposto inefável do ser, atributo da existência que
faz sentido. Exterioriza um contraponto comportamental que não se
pode mais ignorar, sob pena de a sociedade desaparecer no
superficialismo das aparências, no engodo da simulação, no espectro
desolador do atraso.
Eleição deveria ser momento mais respeitoso para
toda sociedade que se pretende civilizada. Em nenhuma outra ocasião
os políticos são forçados a lembrar que as pessoas existem, a
debruçar-se um pouco sobre os problemas que as afetam, procurar
ouvi-las, prometer tudo o que reivindicam. Curvam-se ao poder
potencial do voto, o único exercido de fato pelo povo.
O aprimoramento contínuo do processo de sucessão
democrática supõe infância viva, bem cuidada, saudável, educada. É a
fonte que dá origem às gerações de eleitores e candidatos em
constante renovação. Não pode ser exaurida, muito menos turvada a
limpidez dos fluidos virtuosos que jorram de suas nascentes. Sem ela
democracia é abstração. Se suas necessidades não integrarem os
compromissos dos candidatos, a consciência dos eleitores e a
seriedade das candidaturas continuarão sempre aquém do esperado.
Ficará neutralizada a evolução política do eleitorado, requisito
maior da capacidade transformadora contida no poder do voto.
Os programas de governo defendidos na presente
campanha eleitoral, muito semelhantes ou iguais, têm como
destinatário o eleitor, não a sociedade. Simulam engajamento com
soluções nada originais para superar desafios que mais parecem
criados para ficar. Só quem vota vale alguma coisa, não raro
dinheiro vivo. O não eleitor carece de relevância, não é ouvido.
Por força da minoridade, a criança está
naturalmente excluída do processo eleitoral. Não por outra razão, a
maioria dos políticos insiste em situar a infância no contexto
arcaico que a define como incapacidade de falar. Não busca
entendê-la, prefere ignorá-la. Considera sem importância incluir nas
plataformas de campanha um ser que ainda não vota. Daí a pobreza de
conteúdos, a redundância das discussões, o vazio das propostas pouco
inovadoras.
Estudos científicos revelam que, nos tempos
atuais, a sociedade somente avançará se fizer investimentos maciços,
contínuos e prioritários em educação e saúde da primeira infância.
Não há base mais segura para todo e qualquer sonho de futuro. Cada
dia que passa sem fazê-los o país perde tempo. Gira em falso. Opta
por fortalecer a economia sem desenvolvimento humano. Três milhões
de crianças nascem anualmente no Brasil. Delas, 58.500 morrerão
antes de completar um ano de vida. Apenas 411.810 terão acesso à
educação infantil. A maioria das demais ficará relegada ao desprezo,
sem chance de cidadania plena.
A Sociedade Brasileira de Pediatria apresentou
sugestões de governo aos presidenciáveis. PropÃ?s políticas
coerentes para promoção da primeira infância, com ênfase no Programa
Nacional de Educação Infantil, projeto de lei que tramita no Senado
há três anos. Nenhum dos candidatos aparenta valorizar a iniciativa.
Criança não figura entre suas preocupações reais.
A prioridade da infância merece cláusula
constitucional. Assegurar creche e pré-escola de qualidade, em tempo
integral e em número suficiente para toda a criançada há de ser
dever do Estado. Se a criança pudesse votar, essa utopia já seria
realidade. Como não pode, seguirá chorando sem ser ouvida.
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