Cheiro ruim. Aspecto feio. Lixo boiando em suas águas. Essa é a imagem que vem à cabeça do curitibano quando se fala do Rio Belém. A maioria da população sequer viveu na época em que o principal rio da cidade ainda tinha águas limpas. Tragado pelo crescimento urbano, o rio se incorporou ao imaginário dos moradores como um grande e vergonhoso canal de esgoto que não tem solução e que, por isso, merece ser escondido. Mas ele tem solução. E pode “viver” de novo em apenas quatro anos, se as medidas certas forem tomadas.
O prazo para “ressuscitar” o Belém é uma estimativa que faz parte de um grande projeto técnico de despoluição e revitalização do rio elaborado durante oito anos pela prefeitura de Curitiba. Mas para que a recuperação do Belém seja possível, seria preciso investir muito dinheiro: R$ 70 milhões (ou R$ 17,5 milhões por ano) – sem incluir os custos de relocação de moradores de alguns trechos das margens.
O diretor de pesquisa e monitoramento ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Glauco Requião, afirma que, por enquanto, não há cronograma para a prefeitura começar a tocar o projeto. “Ainda não temos o dinheiro”, afirma Requião.
Ele diz que a intenção da prefeitura é submeter o estudo à consulta popular. “O projeto técnico precisa ser discutido com a sociedade”, justifica. Isso deve ser feito após a criação, ainda neste ano, de 11 conselhos comunitários ambientais na cidade. Três deles envolverão os moradores da Bacia do Rio Belém e será nesses conselhos que será debatido o projeto.
A recuperação do Belém exigirá obras de saneamento, reflorestamento das margens e ações de educação ambiental. Segundo Requião, a idéia central do projeto é resgatar a identidade do curitibano com o rio. Para isso, ao contrário do que deseja uma parcela da população, o Belém não seria canalizado e enterrado. O projeto prevê inclusive a descanalização de alguns trechos, reincorporando o Belém à cidade.
No canteiro central da Rua Mariano Torres, via que fica acima do leito canalizado do rio, seria construído um espelho d’água para lembrar que o Belém corre abaixo. Em outros trechos com margens a céu aberto, seriam instalados jardinetes e praças. Com essas medidas, associadas à educação ambiental, o curitibano passaria a valorizar o rio.
O professor Arnaldo Carlos Müller, do curso de Engenharia Ambiental da PUCPR, confirma que é fundamental que, além das obras de saneamento, a população seja envolvida no processo. Ele acredita que é possível, do ponto de vista técnico, despoluir o Belém em quatro anos. “Mas os resultados vão depender da eficiência da cobrança do poder público pela população”, diz Müller.
O diretor do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Paraná, Eduardo Gobbi, diz que o grande dilema será definir se a recuperação do Belém de fato é uma prioridade para o investimento de recursos, já que o rio não é responsável pelo abastecimento da cidade e que os mananciais que fornecem água para Curitiba, na região metropolitana, também necessitam de ações ambientais. Para Gobbi, no entanto, a revitalização do Belém poderia ser utilizada simbolicamente como um projeto de educação ambiental para todos os curitibanos. Fernando Martins |