Lions e Copa do Mundo. O que devemos aprender.

CL Marco Antônio Struve
Lions Clube de Indaial

Não tenho a vida repleta de finais. Ao todo, são 10, com esta de 2002. Até hoje, não me lembro de ter parado um instante sequer pra pensar em táticas e estratégias. Final de Copa, mando solenemente às favas a ciência. Num momento como este que estou vivendo agora, quero mesmo é perder o fôlego. Quero mesmo é delirar com um drible de Ronaldinho Gaúcho, num gesto radioso de matar de inveja a própria aurora boreal. Com o corta-luz do Rivaldo deixando Ronaldo de frente pro gol.

Passei a Copa inteira dividido entre dois pensamentos: ora acreditava, logo depois, duvidava. A Seleção sempre me surpreendia, alternando bons e maus momentos. Felizmente, o que sempre acaba salvando a pátria é o jeitinho brasileiro, essa irresistível parábola da alma do nosso povo, que transforma em obra de arte o gesto singelo de chutar uma bola. É o jeitinho brasileiro de ser feliz.

E o que isso tem a ver com Lions? Eu diria que quase tudo. A seleção deixou o país desacreditada, criticada, relegada ao papel de mero coadjuvante de seleções realmente brilhantes e que dariam o espetáculo. A genialidade dos franceses, o drible argentino, a raça italiana, a velocidade britânica. Nós tínhamos apenas um técnico teimoso que não convocou o Romário apesar de todo o clamor popular, e um bando de jogadores talentosos individualmente e sem nenhum esquema coletivo, capaz de criar aquilo que se chama de equipe.

E como estamos nós do Lions? Será que nos somos um time, uma equipe? Ou somos apenas muito bons individualmente, mas sem um espirito coletivo? Será que nos confiamos no nosso time para vencer este momento pelo qual atravessamos? Quem será o líder que vai conduzir o nosso time? Quem será o Felipão que vai conduzir o Lions de volta ao lugar que ele sempre mereceu na sociedade? Que características ele deve ter?

Todos dirão que o líder precisa ter autodisciplina, energia, responsabilidade, carisma, tolerância, poder de síntese, capacidade de assumir riscos, conhecimento, capacidade de aprender sempre, e saber delegar, ouvir, comunicar, ser sensível, empreendedor, eficiente, determinado, automotivado, tolerante, criativo, dinâmico, objetivo... A lista é imensa. O.K. Mas vamos levar em conta nossa realidade atual apocalíptica: tudo acontece muito rápido, o cotidiano está confuso e cheio de dificuldades, mudanças, caos, incertezas...

Esse panorama não é novo, são elementos que sempre existiram durante toda a história da humanidade. A liderança, dentro e fora de um clube de serviço, não é um desafio deste século. Desde do antigo Egito as pessoas se preocupam com a liderança. E todos os líderes, em qualquer tempo, tiveram de lidar com a mudança e buscar saídas para problemas causados por imprevistos, acidentes da natureza, guerras, fome, pestes e revoltas sociais.

Talvez o que caiba seja uma atualização sobre os intervalos entre tempestade e bonança. Hoje, o espaço entre esses dois fenômenos é cada vez menor. A máxima, inclusive, poderia ser alterada para "depois da tempestade, vem a bonança e depois, a tempestade novamente".

O que atesta que os desafios do líder não são novos são alguns manuais atemporais, como O príncipe, de Maquiavel, escrito no século XV, e a Arte da guerra, de Sun Tzu, escrito a cerca de 2.500 anos atras. Os dilemas de O príncipe e da obra chinesa mostra que os desafios e as buscas são as mesmas dos dias atuais, e ainda existem as mesmas dificuldades.

Para os que buscam fórmulas e receitas fáceis sobre como ser líder, a desilusão: não existe nenhuma. Por mais desconfortante que seja, essa verdade deve ser encarada. O que pode haver em comum entre Gandhi e Hitler? Que tipo de personalidade deve ter um líder? Aqui entra uma informação divisora de águas neste assunto: a liderança é um processo que "constrói pontes", que fornece elementos para a interpretação da realidade, que sabe qual o rumo a ser tomado, que encontra a melhor opção possível.

São os líderes que facilitam os processos de mudança, são os guias nos períodos convulsivos. Tem a capacidade de dar significado às coisas. Às vezes, o cenário é de caos, de incerteza, e uma das funções da liderança é interpretar, esclarecer, tornar simples a realidade. Sua função é reduzir a incerteza, mostrar qual é o caminho, quais são as escolhas que devem ser feitas.

Líder é aquele que tem a capacidade de traçar caminhos para o grupo, mesmo quando estes caminhos não parecem ser os mais corretos, os mais lógicos ou os mais fáceis. No limite, a liderança cria a realidade por isso esse processo de liderança tem o compromisso de plantar a visão na mente do seguidor. Daí, a liderança é também uma função educadora, por que é a impulsionadora de todos os saltos e revoluções que acontecem na humanidade.

Por outro lado há os líderes que cuidam do dia-a-dia. Seu objetivo é a eficiência. Trabalham para que as coisas aconteçam. Verificam se as tarefas estão sendo feitas, controlam e dirigem ações, cuidam de resultados e procedimentos. Dá as soluções certas aos problemas, responde convenientemente às solicitações.

Mas a liderança reformula os problemas e não se limita a responder às solicitações: cria um destino. O líder exerce uma função na fronteira: ele olha para frente e para trás, para dentro e para fora, e vê onde e quando é necessária sua atuação. Fora, fazendo as revoluções, ou dentro, fazendo a engrenagem funcionar. A liderança é mais importante do que o líder. Em uma equipe nos momentos de dúvida e incerteza, o dar sentido a uma realidade não precisa vir só de uma pessoa. Dentro de um grupo, a contribuição na liderança oscila, dependendo dos conhecimentos e das habilidades de cada um. E esta é a grande lição que devemos apreender com a seleção. Cada um de nós é o presidente de cada clube, cada um de nós é o responsável pelo destino de cada clube, porque cada um só pode controlar o empenho de si mesmo. Se cada um não fizer o seu melhor esperando que os outros o façam, então todos perdem. Se cada um fizer o mínimo que se espera, mesmo que este mínimo seja mínimo, então todos vencem.

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