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Corrigindo velhos chavões

leo@barretos.com.br

Algumas falhas conceituais, muitas delas aprendidas desde os tempos de escola, continuam a povoar as cabeças de muitos leitores, alunos ou professores. Este artigo, incompleto, dado a grande quantidade desses falhos conceitos, é uma tentativa de minimizá-los.

 

1) ___ "toda ação tem uma reação igual e contrária" 

 

Este chavão, usado por inúmeros professores, alunos (e até mesmo em anúncios de televisão) é uma tentativa frustada para tentar enunciar a 3ª. lei de Newton.

"Para toda ação ... NÃO há uma reação igual e oposta"

Sir Isaac Newton publicou suas leis de movimento originalmente em latim. Na tradução para o inglês (muito anterior à primeira tradução do inglês para o português), a palavra "ação" era utilizada com um significado diferente do que é usado hoje. Ela não foi usada para sugerir movimento ou uma conseqüência; ao invés disso foi usada para dar o significado de "uma ação sobre algo" (" an acting upon"). Era usada da mesma forma que a palavra força é usada hoje. É assim que deve ser interpretada a 3ª. lei de Newton: para toda força aplicada, uma outra força igual e oposta sempre aparecerá. A palavra igual, refere-se à intensidade da nova força que surge e a palavra oposta refere-se ao fato de que esta nova força deverá ter a mesma direção e sentido contrário ao da força original. A ação, um prático bate num transatlântico e afunda, não corresponde uma reação igual e contrária; o transatlântico bate num prático e não afunda. Quando você comprime um skate para trás o chão o empurra para a frente ... você anda e o chão não se move! Estas ações e reações, em termos de movimento ou de qualquer outra conseqüência, não eram a investigação, nem a pretensão da 3ª. Lei de Newton. Nesta, ele só pretendia dizer que, quando você empurra algo, este algo também empurra você, mesmo que ninguém se mova. Você não pode tocar sem ser tocado; nada pode atrair sem ser atraído; nada pode repelir sem ser repelido. Em suma, as forças sempre existem aos pares! Esta é a Terceira Lei de Newton (para referenciais inerciais).

 

2) " e então, caiu um raio e rachou a árvore ao meio,..."

 

Como se pode explicar a aqueles que não estudam ciências que um raio não cai, que o raio sobe! O raio (coisa que ninguém vê, pois se constitui de movimento de cargas elétricas) decorre de um desequilíbrio elétrico entre as cargas positivas da base da nuvem (em geral, do tipo cumulonimbo) e das cargas negativas (elétrons) dispersos na superfície da Terra (que é um corpo altamente negativo). Ora, cargas positivas na base da nuvem significa falta de elétrons, e não excesso de prótons (cargas positivas), uma vez que mexer com prótons (que estão no núcleo atômico) requer quantidades brutais de energia. Os prótons não fluem! Elétrons da superfície da Terra ( e isso inclui árvores, casas, prédios etc. ) procuram o caminho de menor resistência elétrica, até chegarem ao ponto mais próximo da nuvem. Nessa subida, por trajetos irregulares, chocam-se com moléculas dos gases que constituem o ar, ionizando-as (e dai de-comer a luz que enxergamos __ o relâmpago). O aspecto da subida lembra um espanador, com o cabo para cima. Muitos caminhos levam ao cabo. Os elétrons da superfície, em sua subida, vão se juntando, engrossando (eis porque a luminosidade começa a aumentar de baixo para cima) o fluxo até se juntarem no cabo (o trecho próximo à nuvem). Como o clarão é mais intenso lá em cima do que aqui em baixo, a impressão visual do relâmpago (e não do raio!) é de que algo desceu. Como pouca gente estuda ciência, o "raio continuará a cair por muito tempo". Quem o está jogando, lá de cima, deve ter uma excelente pontaria para acertar justinho na ponta de um pára-raios (que deveria ser denominado lança-raios). É um chavão difícil de ser suprimido.

 

3) " Por que tantos reclamam do preço da água?

 

Ela é tão barata! " A água é barata. Eis uma mentira deslavada! (desculpem o trocadilho). Quando você compra 1.000g (1kg) de pão fresco, adquire apenas 600g desse alimento, pois 400g são de água ... paga como pão! Em cada 1kg de carne há 750g de água ... que você pagou como carne! Em 1kg de peixe há 800g de água. Está ou não está cara a água? Se os alimentos fossem vendidos, todos desidratados, ai sim você estaria pagando somente os alimentos.

 

4) "cubra a televisão pois ela detesta o Sol."

 

A televisão é filha indireta de um raio de Sol. Observando que seus instrumentos não funcionavam bem quando atingidos por raios de Sol, Joseph May, que trabalhava em uma estação de telégrafo na costa da Irlanda, em 1861, por fim localizou o defeito nos resistores de selênio. A intensidade de corrente elétrica nestes resistores variava de acordo com a quantidade de luz recebida. Um mosaico destas células de selênio foi logo fabricado, que veio a ser o coletor de imagem para transmissão, na TV. Viu?

 

5) "Meu papagaio fala como gente grande!".

 

Quantas vezes já não ouvimos tais balelas de pessoas que tentam superestimar aqueles sons tétricos emitidos pelos papagaios. A anatomia das gargantas das aves, como a dos papagaios e dos mainás, é completamente diferente da nossa. O máximo que se pode fazer é treiná-los para imitar os sons que emitimos, embora, é claro, não os entendam. Os golfinhos, por exemplo, conseguem emitir facilmente um número ainda maior de sons do que nós, e, nem por isso conseguem transmitir maior quantidade de informações que nós, com nossa linguagem. Se há algum animal que deveria falar, são os grandes macacos. Eles, que são os nossos parentes vivos mais próximos, não falam, a laringe e a região adjacente a ela não têm a disposição adequada para que eles emitam a mesma variedade de sons que os humanos.

 

6) "luz solar é luz de raios paralelos"

 

Alguns livros citam que a luz provenientes de objetos luminosos distantes é constituída de raios quase paralelos e, quanto mais distante estiver o objeto, mais paralelo chegarão a nós seus raios de luz. Nada temos para discordar. Mas, continuam assim: "desde que o Sol é muito distante, sua luz chega até nós com raios perfeitamente paralelos". Isto é incorreto - luz solar NÃO é nenhuma luz de raios paralelos! O Sol, apesar de sua distância à Terra, não é fonte puntiforme de luz, ele é muito grande para isso! Se a luz proveniente do Sol fosse constituída de raios perfeitamente paralelos, efeitos interessantes aconteceriam:

  1. a)      o Sol, para nós se pareceria um ponto muito luminoso, como uma estrela intensamente luminosa ou como um arco de uma solda elétrica (arco voltaico);

  2. b)     às sombras no chão faltariam as penumbras e teriam contorno perfeitamente nítidos;

  3. c)       a noite cairia instantaneamente, assim que o ponto luminoso se escondesse abaixo do horizonte (não haveria o crepúsculo do entardecer);

  4. d)      durante o dia, as variações da densidade do ar, causariam no solo, padrões de interferência de luz, semelhantes àqueles que observamos no fundo de uma piscina em cuja superfície correm pequenas ondas de água;

  5. e)      aos eclipses solares e lunares faltariam as penumbras;

  6. f)        uma lente convexa (lente convergente) de grande diâmetro concentraria a luz em um único ponto extremamente quente, e não num pequeno disco luminoso (a imagem do Sol) - os aparelhos para projetarem os eclipses do Sol nos anteparos seriam um fracasso!;

  7. g)      uma pequena lente côncava (lente divergente) colocada perto do foco da grande lente convexa poderia ser usada para produzir um intenso (e perigoso) feixe de luz paralela. Nada disso acontece com nosso atual feixe de luz proveniente do Sol.

 

7) - "gravidade no espaço é nula"

 

Todo mudo sabe que a gravidade no espaço exterior é nula. Todo mundo está errado. A gravidade no espaço não é nula, pode ser, na verdade, bastante intensa.

Suponha que você suba por uma escada de mão até chegar a uns 450 km de altura. Você já estará no vazio do espaço, mas não estará absolutamente leve, sem peso.

Talvez ali, você pese uns 15% menos que quando na superfície da Terra. Surpresa! Uma astronave em órbita passa bem pertinho de você; lá dentro dela você vê um astronauta que esta simplesmente flutuando, fazendo um esforço tremendo para fazer pose para uma fotografia (ação típica de astronautas).

Como é possível que ele não pese nada e você, ali pertinho, ainda tem bastante peso?

A razão disso é que você, grudado lá no alto de sua escada, está parado em relação á Terra, eles não, eles estão todos dentro de um recipiente que está caindo! Se os astronautas pudessem passar para sua escada (e deve ser uma escada muito resistente!) eles não estariam mais caindo e sentiriam seu peso quase normal. E, se você conseguisse saltar da escada para a espaçonave (você deveria sair da escada como uma pedra sai de um "brutal" estilingue, para conseguir uma velocidade igual à da espaçonave) você sentiria que perdeu totalmente seu peso ... mas agora você está caindo. Esta sua queda dá-se ao longo de uma trajetória curva, tão curva como a curvatura da Terra ... você está em órbita! Todos os objetos em órbita estão realmente sempre caindo, todos dentro da espaçonave (e ela própria) caem com a mesma velocidade e daí vem a impressão de que estão uns flutuando em relação aos outros, daí a impressão de falta de peso. Os astronautas, na verdade nunca "estão leves", a Terra está sempre puxando-os fortemente de encontro a ela, eles estão em queda livre ... uma queda livre que nunca encontra o chão, cai, cai e nunca desce! Você pode experimentar uma queda livre genuína, igualzinha á dos astronautas, simplesmente pulando do trampolim de uma piscina. Só que, a curava que você descreverá (algo próximo de uma parábola) é bem mais fechada que a curva que eles realmente descrevem, por isso, logo você baterá na água.

 

8) - "a lente principal de seu olho está dentro do olho"

 

No olho humano, a pequena lente achada dentro do globo ocular (o cristalino) NÃO é a lente principal para a produção da imagem sobre a retina. A córnea é de fato a lente principal; é a superfície dianteira transparente do olho. O acentuado desvio da luz, por refração, acontece no lugar onde a luz entra na superfície da córnea (dióptro esférico). Quando você olha seu olho no espelho, você está olhando, diretamente, para a lente principal do olho. A lente menor dentro do olho, o cristalino, só age para corrigir o enfoque da lente da córnea. Músculos mudam sua forma para corrigir o enfoque para vermos objetos próximos e objetos à distância. Sem esta lente pequena, visão humana seria extremamente desfocada. Mas sem a lente da córnea, o olho humano seria cego. Por isso, os deficientes visuais crônicos recorrem ao transplante de córnea.

 

9) - "quando um prisma decompõe a luz branca em várias cores, um segundo prisma idêntico ao primeiro poderá recombiná-las"

 

Um único prisma pode dividir um feixe de luz solar em um arco-íris. Muitos livros de ciências, do nível ginasial, mostram esse fenômeno e ilustram, a seguir, um segundo prisma (similar ao primeiro) efetuando a recomposição das cores do arco-íris em luz branca. Isto está incorreto, dois prismas, como comumente aparecem nestes livros, NÃO conseguirão recompor a luz. Prismas de dois tamanhos diferentes podem ser ajustados para que o primeiro decomponha a luz e o segundo a recomponha, com certo desfoque. Com três prismas em um arranjo especial, pode-se conseguir a decomposição e uma perfeita recombinação das cores. Mas, livros que descrevem um prisma decompondo as cores e um segundo prisma idêntico ao primeiro, recompondo as cores em uma única faixa branca estão errados. Os arco-íris também podem ser recombinado colocando-se uma tela no lugar certo, para que a luz colorida proveniente de pequenos espelhos planos convirjam sobre ela. A recombinação também pode ser feita com uma lente convexa (lente convergente) ou um espelho côncavo e uma tela.

 

10) - "o papagaio de Benjamin Franklin foi atingido por um raio"

 

Muitas pessoas acreditam que o papagaio de Franklin foi atingido por um raio e, com isso, ele provou que o raio nada mais era que uma faísca elétrica, uma corrente elétrica. Vários livros e até mesmo algumas enciclopédias dizem a mesma coisa. Eles estão errados. Quando raio golpeia um papagaio, a corrente elétrica no fio úmido é tão alta que poderá matar qualquer pessoa no solo, perto de onde o fio está preso, imagine então o que acontecerá com a pessoa que segura o fio! O que Franklin fez de fato foi mostrar que seu papagaio pôde coletar uma porção minúscula do desequilíbrio de carga elétrica no céu, durante um temporal. Essas cargas foram transferidas pelo barbante úmido do papagaio até a chave (de metal) que ele prendeu na sua extremidade. Desta chave pôde retirar pequenas faíscas, como aquelas obtidas em máquinas eletrostáticas da época. Franklin usou um objeto de metal porque não poderia tirar faíscas diretamente do barbante, que não é bom condutor de cargas elétricas. Isto sugeriu a ele que as nuvens estavam eletrizadas e que isso era a causa das descargas elétricas. A convicção comum que Franklin sobreviveu à queda do raio é perigosa e pode sugerir às crianças que vale a pena repetir tal experimento, contanto que se protejam segurando a extremidade do barbante que contém a chave, com um outro fio de seda. Nunca façam isso! Não cometa este engano, a experiência de Franklin foi extremamente perigosa e, se um raio tivesse realmente atingido seu papagaio, ele certamente teria morrido instantaneamente.

 

11) - "nuvens, nevoeiro e o que se vê nas saunas é vapor de água"

 

Isso que se vê, e que erroneamente muitos chamam de vapor d’água, não é vapor de água, são minúsculas gotículas de água líquida. Quando a água evapora ela converte-se em um vapor transparente. Quando este vapor se condensa, o líquido restaurado pode assumir a forma de rios, oceanos, lagos, mas também pode assumir a for-ma de nuvens, de nevoeiro etc. Vapor de água é transparente, você não o vê. Nuvens e névoa não são transparentes, você os vê. Aquela fumacinha que sai do bico da chaleira quando a água ferve não é vapor de água (são gotículas de condensação); o vapor encontra-se naquele espaço entre a fumacinha e o bico da chaleira!

 

12) - "pingos de chuva tem pontas"

 

Quase todos os desenhos de pingos de chuva os descrevem como tendo a região superior afilada, pontiaguda. Isto não é correto. Gotas pequenas que caem são quase esféricas. As maiores, devido á resistência imposta pelo ar, em suas quedas, apresentam-se ligeiramente achatadas na base, mas nunca com a região superior pontiaguda! Pense nisso deste modo: bolhas de sabão não apresentam a região inferior afiladas quando sobem, da mesma maneira que gotas de água não apresentam a região superior afilada quando descem. É realmente interessante que todos os desenhos relativos a gotas de água as mostrem com a extremidade superior afilada; mesmo os folhetos "da gota que salva" mostra isso. A gota de água real não é nada parecida com sua representação! Quando a água goteja de uma torneira, a gota só apresenta a região superior afilada no momento que se desprende (devido à coesão molecular); soltando-se da torneira, a gota, em queda livre, torna-se esférica devido á tensão superficial. Aliás, é assim que eram feitas as balas redondas de chumbo dos mosquetes antigos. Uma tina no alto de uma torre gotejava chumbo derretido, o qual, após a queda, era recolhido numa tina com água. Redondinhos!

 

13) - "ar é muito leve"

 

Nós não estamos conscientes de quanto o ar pesa porque estamos submersos dentro dele. Da mesma maneira, até mesmo uma grande bolsa de água parece-nos leve, quando é submersa em um tanque de água. Um modo para descobrir quanto o ar pesa, seria levar uma grande bolsa de ar em uma câmara de vácuo. Um modo mais simples ainda, é abrir um guarda-chuva e sacudi-lo para frente e para trás; então feche-o e sacuda-o novamente. Quando está aberto, você pode sentir o peso da massa de ar que você está puxando ou empurrando ao redor dele. Ar não é nada leve!  

 


 

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